sábado, 25 de junho de 2016

Um amor salvo da sarjeta

                                Um amor salvo  da sarjeta
A luz da lua criava sombras na parede da alcova fazendo parecer ainda maior a corcova do homem que passeava pelo aposento.
Em sua cabeça de parcos cabelos e muita fantasia pairava um pensamento renitente e quase estridente beirando revelar o seu segredo tão antigo quanto à velha casa cinzenta que o abrigava há longos anos.
Era mais que uma paixão, era um fetiche guardado a sete chaves.
E foi pensando nele que abriu a duas portas do armário e mais a tampa da caixa de metal que ficava na parte interna do assoalho do referido móvel e retirou com cuidado o seu tesouro e o colocou sobre a cama em desalinho afastando para cima do travesseiro de cor indefinida as cobertas desbotadas e amarfanhadas para melhor apreciá-lo.
Era magnífico! Da cor vermelha e salto agulha de nove centímetros...
Era um Louboutain autêntico.
Passou horas naquela posição de admiração e lentamente foi se delineando em sua mente entorpecida de paixão uma doce declaração de amor pelo seu precioso objeto encontrado por acaso escorrendo pela sarjeta inundada e imunda no ultimo temporal que caiu na cidade.


Meu amor mais lindo da cor da paixão e a elegância de um cisne.
Que exerce sobre mim a atração irresistível de um ímã.
De emoção me quebra em partes e me faz derreter inteiro.
Salvo da lama, do abandono e da sarjeta.
O que mais me intriga e me faz perguntar; 
Onde está seu par?

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