domingo, 24 de julho de 2016

Do Baú..

                                                              Do Baú
 Num dia qualquer de um tempo que se perdeu, revirando papeis e quinquilharias dentro de um velho Baú esquecido no porão encontrei coisas muito interessantes entre escritos e muitos guardados. 
Para alguém que está entediada num dia de chuva e frio foi um achado.
Revirar aquelas coisas todas me fez voltar no tempo e trazer à tona lembranças e momentos de saudade.
O baú não era meu e a casa era recém alugada, mas não sei porque naquele momento senti reviver alguns momentos da minha vida. Acho que as nossas são as lembranças de todos.
Um impulso maior me faz continuar a remexer...
Afastando folhas secas e flores murchas, fitas puídas e rendas desbotadas, um chapéu de festa todo amassado, vejo brotar maços de cartas amareladas pelo tempo de letras desenhadas e marcas de batom. 
As letras desenhadas com esmero e graça fazem arabescos nas doces frases de poemas antigos. Tudo exala perfume de flor e formas desbotadas de cor.
Continuo a vasculhar aquela mistura de saudade e lembranças e me deparo com uma chave enferrujada, de alguma fechadura desconhecida. 
Paro para observá-la entre os dedos e não consigo imaginar de onde possa ter vindo, talvez de outro baú ou uma porta secreta. Quem sabe até a tenham guardado simplesmente porque a acharam bonita. Trazia uma fita de veludo negra que se destacava na parte superior onde se via dois corações entrelaçados. Realmente não fazia a menor ideia de onde ela fechava e abria.
Já houve um tempo que era comum se guardar lembranças, mechas de cabelos, dentes de crianças, vestidos de comunhão, de casamento e batizado em rendas fitas e bordados para futuramente vestir um outro descendente em algum momento especial... 
E não acabava mais de tirar coisas daquele baú mofado.
O primeiro sapatinho, papel de bombom cor de rosa, uma flor “sempre-viva” dentro de um livro de poesias com dedicatória, reafirmando juras de amor pela eternidade, objetos que marcaram momentos inesquecíveis, naqueles tempos de sótãos e porões. Hoje não se tem espaço físico nem ao redor de nós mesmos. Moramos em cubículos num exercício muito nobre de despojamento e desprendimento. Precisamos viver só com o essencial.
Revirando mais um pouco o velho Baú de guardados, encontro um pequeno Missal de capa em Madrepérola da primeira Comunhão de alguém, junto de uma longa vela branca que trazia na base um babado de renda.
Algumas fotos me prenderam a atenção por uns momentos como se eu fosse reconhecer aquelas velhas pessoas tristonhas. Lembranças de crianças numa praia, outras de festas com pouca luz e pessoas taciturnas, casamentos, batizados e um velório, sim um velório. Tudo em P&B., na verdade Sépia de tão antigas.
Quanto mais remexo mais trago a memória do tempo, uma memória que não é minha mas faz conexão com as minhas lembranças e sinto uma saudade doida e profunda de um tempo que não volta mais, estranho não é?
Uma caixa de madeira perfumada me chama a atenção. A tomo nas mãos e me dou conta de que um dia ela guardou sabonetes de Odor de Rosas, hoje guarda uma velha coleção de Santinhos de Igreja... Fechei os olhos e senti o perfume impregnado na madeira penetrar pelas narinas do tempo. Já tive uma caixinha daquelas...
Observo com mais atenção e avalio aqueles “cromos” por um tempo e me dou conta de que não existem mais “santos” nos tempos atuais, por que será?
Morreram todos e ficaram para nós suas histórias de milagres e santidade. Não foram renovados e nem substituídos ao longo do tempo.
Fico pensando e me perguntando aqui com meu colar de Pérolas autênticas que encontrei entre os guardados também:
Isso é bom ou é ruim para a humanidade? Não se fazem mais santos como antigamente! E porque não se fazem, o que mudou na santidade, no céu ou na terra?
Talvez porque todo mundo esteja muito ocupado hoje em dia e santidade demanda tempo, meditação e muita disponibilidade para se doar inteiro em épocas de correrias.
Como agiria um “santo vivo” em dias de hoje, teria uma página no FB e um grupo no WZ?
Oh céus!!!!
Guardei o colar correndo, fechei o Baú e sai do porão rapidinho.
Melhor ir tomar um café... tá servido?
                                            

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